No meio do caminho da rotina, dou de cara com esses pregadores no varal.
Prega Dores
Quais as dores que preciso pendurar?
Aquelas que são deixadas de molho por dias porque sabemos que são difíceis de limpar?
Aquelas pesadas que talvez o varal não consiga aguentar?
As dores mais leves dos outros que parecem mais importantes que as minhas?
Ou as que secam mais rápido e nem precisam centrifugar?
As dorzinhas pequenas de cada dia que não podem ficar pra amanhã?
Qual é a sua dor?
Qual dor você precisa por no varal para ventilar… arejar … ser vista… compartilhada com os vizinhos de quintal?
Qual dor está no cesto de roupa suja faz tempo esperando pelo seu momento no tanque das tristezas lavadas?
Qual dor você consegue pendurar corajosamente aqui e me mostrar?
A dor da saudade, da perda de alguém, da perda de um sonho?
A dor da perda do dinheiro, do ganho de peso, da perda da fé, da geladeira vazia?
A dor de não estar sendo bom o bastante? Bom como gostaria?
A dor da incompreensão? Da injustiça? Da traição? Do abandono à própria sorte?
Qual dor você penduraria neste varal?
Você precisaria de alguém pra te ajudar?
Você sente que não haveriam pregadores suficientes para todas elas?
Ninguém quer sofrer, queremos todos nossas roupas limpas e perfumadas, sem rasgos ou remendos.
Mas a dor está se acumulando a cada dia e com ela as reflexões que poderiam centrifugá-la e deixá-la um pouco mais leve, clara e fácil de ser estendida ao sol.
Como anda o seu varal?
Que dor ou dores mereceriam ser penduradas nele agora?
Talvez possamos descobrir que temos mágoas e dores muito parecidas para lavar, independente da quantidade de sol que bata no nosso quintal.
Adriane Siqueira