Sim esse é também um desafio para esses tempos. Porque estamos em um momento em que nossas casas não estarão muito limpas, as raízes brancas do seu cabelo começarão a aparecer, o seu marido lavando a privada não será algo empolgante de se ver, você não conseguirá explicar pra seu filho as matérias da escola, seus pais se mostrarão mais frágeis ou desobedientes do que você gostaria (e seus filhos também), os hábitos dos vizinhos terão um impacto maior sobre você, agora que você está mais em casa e pode ouvir a criança do andar de cima com seus patins as 8:00 da manhã. Nem todos os amigos e parentes vão ligar para saber como você está ou gostarão das suas postagens nas redes sociais. Os políticos tomarão decisões inadmissíveis, os patrões tomarão medidas que vão te decepcionar, as escolas mandarão conteúdo demais ou de menos para seus filhos, faltará papel higiênico nos supermercados e máscaras nos hospitais.
Como faremos com tamanha vulnerabilidade e imperfeição? Podemos nos esquivar e ignorar as ameaças ao nosso mundo ideal, podemos agredir e apontar o dedo para os defeitos alheios, cobrando o que só seria possível em um cenário de ficção.
Mas se pensarmos um pouco além, poderíamos ver que junto com a decepção, o medo, as mágoas trazidas pelas imperfeições que crescem diante dos nossos olhos, crescem também as oportunidades para a aceitação, a empatia, a criatividade e a disposição de agir de forma diferente. Afastar-se ou evitar esse incômodo seria como alimentá-lo e fazê-lo crescer ainda mais.
Estamos diante de um grande desafio, que nos convida a investigar com curiosidade porque estamos agindo de determinadas formas, e mais do que nunca a nutrirmos sentimentos de compaixão pelos outros e por nós mesmos. Tempo de sermos suficientemente bons para os outros e para nós mesmos. Tempo de repetir como um mantra “ Estou fazendo meu melhor e vai ficar tudo bem”. E se não ficar tudo bem que possamos acolher uns aos outros.
Adriane Siqueira
( isolada em casa pela pandemia do covid-19)